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HISTÓRIA DO ESPIRITISMO

Chrles Richet
Charles Richet

Esta página é um resumo, devendo servir de guia para maiores pesquisas. Apenas incita o gosto pelo conhecimento da matéria, recomendando-se avançar pelas referências sugeridas.

(Em caso de dúvida, para ler ou baixar, clique aqui)

A melhor divisão da História do Espiritismo é aquela apresentada por Charles Richet, para o estudo da Fenomenologia Metapsíquica:

1°Período: Mítico: da Antiguidade até Mesmer (1776)
2°Período: Magnético: de Mesmer às irmãs Fox (1847)
3°Período: Espirítico: das irmãs Fox, passando por Allan Kardec, até William Crookes (1872)
4°Período: Científico: de Crookes até o presente
.

Tentaremos acompanhar a periodização de Richet com a da História.

1ª Período – Mítico:

Pré-História:

Desde o surgimento da espécie humana no planeta até a invenção da escrita, cerca de 4000 aC. Marcada pelos elementos da natureza como deidade, sem um antropomorfismo claro e sem o conceito da alma senciente após a morte física. No entanto o surgimento da escrita ocorreu em diferentes momentos, de acordo com cada civilização. Os povos mesopotâmicos, bem como orientais e egípcios antigos já reconheciam a identidade preservada após a morte, porém sem a reencarnação, exceto para os hindus, os quais consideravam a metempsicose,- que é a reencarnação em diferentes espécies vivas, não só na forma humana,- mas já com a ligação filosófica, ética e moral, de causa/efeito, ação/reação, mérito/dívida.

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Menires em Carnac, França

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A Roda da Vida Hindu


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Druidas em Stonehenge

Antiguidade:

Desde a Antiguidade diferentes culturas consideravam, em um contexto politeístico, a imortalidade da alma e sua destinação post-mortem, passando pelo julgamentos por deuses, de acordo com a causa/efeito de seus atos e as relações com os demais humanos e para com a divindade. Exemplo típico desde a Mesopotâmia, passando pelo Egito Antigo, Grécia Clássica, Roma Antiga. Culturas indígenas em todos continentes sempre tiveram deidades e conceito de imortalidade da alma.

E, com isto, também as manifestações de mediadores (médiuns) entre os deuses, os mortos e os vivos. Na Antiguidade temos a célebre figura de oráculos. Os oráculos permitiriam a comunicação entre os planos existenciais e/ou com a deidade, através de métodos que possibilitassem ensinamentos reveladores (clarividência e premonição). Os mais famosos se tornaram os oráculos gregos, porém eram muito metafóricos em suas revelações. Entre outros métodos, além das sacerdotisas oraculares, também citamos I Ching, Runas, Ifá e o Tarô, métodos em que iniciados exercessem atividades mediúnicas análogas.

No período mítico, em geral a fenomenologia está ligada às manifestações de deidades e semideuses, com uso de poderes pelo mito carregado de epopéias e tragédias, com lições morais de seus relatos, das parábolas.

Com o monoteísmo, mormente judaico-cristão, a figura de mortos comunicando-se com vivos trouxe além do reconhecimento da inteligência fora da vida material, enquanto entidades sencientes daqueles que estavam vivos, encarnados, trouxe também a capacidade desses espíritos terem o determinismo maniqueista do conceito de bem e mal para conceitos de céu e inferno, com a antiga idéia de causa e efeito preservada. No islamismo também observamos o reconhecimento da vida após a morte, com a identidade da pessoa preservada, também regido pelos princípios morais de causa/efeito, existindo gênios do bem ou do mal.

No Oriente, as culturas indiana, chinesas e japonesas, em suas diferentes religiões, desde a origem da humanidade já também consideravam a deidade e a imortalidade da alma, destacando-se o hinduísmo, em todas suas vertentes e ramos, também aceitando a reencarnação, mas pela indistinção de forma evolutiva animal, seja humana ou não (metempsicose), mas todas levando em conta a causa/efeito entre ações e reações, como méritos e dívidas morais e/ou materiais (dharma/karma).

Uma das culturas que por sua historiografia mais deixou legado para ser estudado, o Egito Antigo, pode ser mais bem estudado o seu conteúdo filosófico-religioso. Chama-se atenção especial para o conceito do julgamento da alma por ocasião do desencarne, quando o coração era pesado contra uma pluma, em franca metáfora da leveza da alma, por seu caráter vibracional, evolutivo, versus a pena, símbolo da beleza e pureza do ser, da alma, do espírito. Em um curto período, houve a tentativa de monoteísmo, através de Amenofis IV (Amenhotep IV) (Akhenaton).

File:Akhénaton et Néfertiti (Musée du Louvre) (8736520486).jpg ...
Akhenaton e Nefertiti

Anúbis com a pluma de Maat.
Julgamento da Alma

Religiões abraâmicas – Wikipédia, a enciclopédia livre
Religiões Abrâmicas
Monoteístas
Inquisição medieval
Inquisição Medieval

Idade Média:

Notou-se a progressiva evolução do politeísmo,– diferenciando-se no henoteísmo, – para o panteísmo e, deste, para o monoteísmo. Mas não se deixou de observar o intenso misticismo medieval.

Conforme os séculos se passaram, o misticismo ritualístico de comunicação entre vivos e mortos, bem como as práticas destas seitas foram sendo concentradas em pessoas específicas, líderes religiosos, tais como videntes, druidas, pajés, feiticeiros, magos, bruxos, xamãs. Em geral associando poções, chás, beberragens em geral com substâncias até alucinógenas. Foi então na Idade Média que com a grande expansão do cristianismo a prática de bruxarias muito perseguidas, deu um novo sentido e tornaram-se proscritos esses líderes religiosos pagãos. A maioria era morta nas forcas e fogueiras das Inquisições e de seus seguidores, em tribunais regionais.

Porém, dentro da própria estrutura da ICAR os iluminados pelas epifanias, ao conceberem conceitos místicos, mas cânones, seriam, por si só, médiuns dentro da estrutura religiosa que, paradoxal, perseguiria os magos e videntes. Ou seja, essas práticas eram profanas se não praticadas pelos membros da Igreja! Na ICAR tivemos muitos personagens, tais como São Dionísio, ou Pseudo-Dionísio, o Areopagita, por exemplo, que dele até hoje perduram seus escritos herméticos, que fora o primeiro discípulo de Paulo de Tarso, no Século I.

Então, na Idade Média, surgiu a figura de A Tábua de Esmeralda (ou Tábua Esmeraldina), texto escrito por Hermes Trismegisto, c. 1140, que deu origem à Alquimia. Em 1541 teve a sua primeira impressão publicada.

Tabua de Esmeralda, em latim, Chrysogonus Polydorus (Nuremberg 1541)

Paracelso
Paracelso


Símbolo da Maçonaria


John Dee

Bola de Cristal
Bola de Cristal

É célebre a busca, pelos alquimistas, não só pela química científica convencional, mas sua mescla com o místico, tanto pela fenomenologia espiritual como pela transmutação da matéria, como a clássica busca da Pedra Filosofal e a transformação em ouro, ainda ligada ao mito de Midas, da Antiguidade, com Nicolas Flamel (1370-1418),- escrivão, alquimista e grande filantropo. Seu corpo e de sua esposa (Perrenelle) nunca foram encontrados, restando apenas as vestes de ambos, na tumba, lembrando o mito do elixir da vida eterna.

Idade Moderna:

Somente com a Renascença começaram a também florescer as novas ciências, com progressivas descobertas, possibilitando pesquisas que direcionassem para não haver o sentido de pecado ou heresia no próprio conhecimento científico em si.

Então tomaram maior importância os profissionais de entretenimento, com o uso de conteúdo místico em suas representações, agora legalizadas como fantasia de teatro e representações, os mágicos, com fenômenos simulados, seja para diversão, seja para charlatanismo.

Inicialmente citamos Paracelso, pseudônimo de Philippus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, nascido em 17/12/1494 e falecido em 24/05/1541, médico, alquimista, físico, astrólogo, e ocultista suíço-alemão. Descreveu o elemento zinco. Seu pseudônimo significa “superior a Celso (médico romano)”. Ele é considerado por muitos como um reformador do medicamento. Também famoso suas realizações em Química e fundador da Bioquímica e da Toxicologia. Ele aparece entre cientistas e reformadores como Andreas Vesalius, Nicolau Copérnico e Georgius Agricola, e, portanto, é visto como um moderno. Por outro lado, sempre possuiu uma aura de místico e até mesmo a obscura reputação de mago.

Neste período da História floresceram também as sociedades místicas, gnósticas, algumas com ritos reservados e/ou complexos, que desde os Século XIII ao XIV já tinham sido embrionadas, ainda que clandestinas, pelo risco das Inquisições. Todas voltadas para o lado místico e transcendental do ser, a deidade e elos ritualísticos, em busca do autoconhecimento, aprimoramento, ainda que fortemente carregadas de corporativismo político entre os seus membros.

O intuito destas Sociedades era (e ainda é) influir e beneficiar a sociedade, resguardando o conhecimento hermético. A precípua meta sendo assegurar a evolução moral e espiritual, individual e da humanidade. Em geral mesclando conceitos da Antiguidade com o crescente Iluminismo. Dentre tais Sociedades, destacaram-se a Maçonaria e a Rosacruz. Ambas implicam na preservação senciente e evolutiva do espírito humano. Ambas rejeitam a metempsicose.

A Maçonaria, já na sua Segunda Fase (Especulativa), não mais reservando o conhecimento técnico do ofício de pedreiro, da Idade Média, mas acrescentando o caráter importante filosófico. Não mais sendo constituída por pedreiros propriamente ditos, mas de fato, o nascimento real, enquanto doutrinária, está nesta segunda fase, já na Idade Moderna.

A Rosacruz, por sua vez, evoca o seu percursor, Christian Rosenkreutz, de 1378, de onde deriva o nome da Ordem. Porém o manifesto "Fama Fraternalis" data de 1614, quando de fato houve a fundação organizada, até hoje também existente, com diferentes vertentes. Seu caráter é mais filosófico e mergulha nas evocações históricas, retrocedendo até Akhenaton. Em suas práticas e rituais, observamos estudos tipicamente de natureza mediúnica, tais como regressão, projeção, iluminação, inspiração, incluindo estudo de vidas passadas.

Dentre as práticas místicas também neste período temos o nascimento das pesquisas de química/alquimia quanto ao princípio vital, com John Dee, galês, nascido em 1527. Dee foi o criador da bola de cristal, com a qual tentava entrar em contato com anjos. Difundiu-se em muito o método, pelos místicos e embusteiros "adivinhatórios", "lendo" presente, passado e futuro, muito frequente em tendas de circos e caravanas. Só que alguns usuários eram médiuns videntes, sem ainda haver o conceito definido.

Em 1575 nasceu Jakob Böhme, alemão, filósofo e místico, que em 1600 teria tido uma epifania onde teria sido revelada a natureza espiritual do mundo para ele, em uma visão, com as relações entre o Bem e o Mal. Após uma segunda visão, em 1610, começou a sua profícua e incessante produção de obras escritas. Suas obras foram adotadas por Johan G. Gichtel, o filho do principal antagonista de Böhme, o pastor Gregorious Ritcher, que as publicou em Amsterdã. A principal preocupação dos escritos de Böhme era a natureza do Pecado, do Mal e da Redenção.


Nicolas Flamel
Símbolo da Pedra filosofal
Símbolo da Pedra Filosofal
LUMINI - SOCIEDADES INICIÁTICAS: A Golden Dawn
Símbolo da Rosacruz
Jakob Böhme
Jakob Böhme

Swedenborg
Swedenborg

 

Franz Mesmer
Franz Mesmer

 


Mesmer atuando

 


Fac-símile do Livro
de Franz Mesmer

Grande impulso se deu com Emanuel Swedenborg, sueco nascido em 1688, que de fato foi um cientista, levando o conceito da pesquisa para a prática, não mais dependente apenas da fé. Publicou a primeira revista científica, com pesquisas sérias em Biologia, Astronomia, Geologia, Biologia e Psicologia. Na verdade foi considerado por Sir Arthur Conan Doyle como sendo o primeiro médium de fato reconhecido, ao escrever o seu livro, História do Espiritualismo. Relatam-se três eventos envolvendo premonição, alognose e comunicação em sonhos, com mortos. Independente do paranormal, Swedenborg também estudou seriamente o cérebro e os pulmões, descreveu projeto de alto-forno e de máquina elevadora de minério. Destacam-se dentre seus estudos de física e química, a teoria atômica e a descrição dos princípios de magnetismo e a relação deste com a eletricidade. Também cabe a ele a autoria da teoria ondulatória da luz, bem como princípios de termodinâmica. Isto tem especial importância, pelos tempos seguintes, onde o conhecimento científico concreto permitiu a compreensão de fenômenos, além dos avanços científicos convencionais.

E então nasceu Franz Anton Mesmer em 1734, iniciando-se o 2º Período.

2º Período – Magnético:

Idade Moderna:

Mesmer, nascido em 17/05/1734, em Iznang, na Suábia, hoje pertencente à Alemanha, teve educação católica, no monastério de Reichenau, da Companhia de Jesus, atingindo o Doutorado em Filosofia. Estudou grandes autores, tais como Galileu, Descartes, Leibniz, Kepler, Newton, dentre outros. Portanto, teve uma formação não só filosófica, mas com conceitos de física e astronomia. Em seguida estudou Teologia e, depois, Medicina. Em ambos os cursos, com os maiores expoentes da época, nas respectivas áreas. E, assim, com o Doutorado Médico, produziu a obra "Dissertatio physico-medica de planetarum influxu, sob a égide de Newton e talvez de Paracelso.

Neste texto, que trata da influência dos planetas sobre o corpo humano, usou pela primeira vez o conceito de fluido universal. Estava assim lançado o início de uma nova fase da abordagem entre o material e o metafísico. Em 1775 apresentou a sua Carta de Frankfurt, onde tornava pública a sua teoria de tratamento por magnetismo animal desde 1773, quando usou pela primeira vez este método. Estava, desta forma, estabelecida a escola que ficou conhecida como Mesmerismo.

Quando seu trabalho foi rejeitado, em 1778, pela Sociedade Real de Medicina, de Paris, no ano seguinte publicou com o título "Memória sobre a descoberta do magnetismo animal". Ao novamente tentar apresentar suas teorias à Sociedade Real de Medicina de Paris, em 1780, não só de novo rejeitado, mas retaliado com a exclusão de seu discípulo, d’Eslon, dos quadro da referida sociedade, da qual este já era integrante. Decorrente deste evento, em 1781 Mesmer publicou a sua mais importante obra: "Resumo histórico dos fatos relativos ao magnetismo animal".

Em um recurso para questionar a Sociedade Real de Medicina, uma comissão de alto nível, contando com Benjamin Franklin, Lavoisier, dentre outros. Porém um destes membros, Jussier, discordou e aceitou as idéias de Mesmer. Todas estas rejeições estavam fundamentadas na alegação que não existiria o proposto fluido universal com o magnetismo animal, sendo mera sugestão hipnótica o que fazia em seu "tratamento".

Sem saber, não com os termos depois estabelecidos, fazia na verdade terapia bioenergética com transferência de energia vital (magnetismo animal), até hoje em prática de terapêutica espiritual, através do passe. Para os materialistas estudiosos de paranormalidade, transferência de energia corporal. Como já dissera Shakespeare, "não importa que nome se dê a uma rosa, ela continuará sempre a ser uma rosa".

O que o mesmerismo não considerava era a inteligência além daquela que aplica e/ou recebe o tratamento, o caráter espiritual do terceiro elemento, o espírito livre do corpo. Seu conceito expandia o magnetismo mineral, como observamos cotidianamente com os imas de ferro, mas através da bioquímica e projeção desta energia, como fluido.

Os fenômenos não corporais, até então, tais como ruídos, batidas, como todos os efeitos físicos, ou pelos religiosos eram vistos como ações de fantasmas, demônios, ou então efeitos da matéria e/ou dos elementos da natureza (vento, dilatação/retração de corpos pela temperatura, sugestão hipnótica, histeria etc) pelos cientistas convencionais e/ou ateus/materialistas.

Em 1785, alguns dos discípulos publicaram as anotações de suas aulas na forma de um livro intitulado "Aforismos de Mesmer", mesmo ele tendo desautorizado. Nesse mesmo ano, abandonou Paris, indo para a Áustria. Em 1886, Mesmer se tornou "imperador" da Rosacruz de Ouro, um dos muitos ramos da Ordem Rosacruz, 1378.

Idade Contemporânea:

Em 1796, Mesmer retornou a Paris e publicou, em 1799, "Memória de F. A. Mesmer, Doutor em Medicinasobre suas descobertas", considerada a sua principal obra, contendo o modelo teórico da terapia do magnetismo animal , sonambulismo provocado e lucidez sonambúlica, – o seu primeiro trabalho publicado em dezoito anos.

Em 1802 deixou novamente Paris e se isolou em Meersburg, sul da Alemanha. Em 1809 foi para Frauenfeld, Suíça. Em 1812 o médico alemão Karl Christian Wolfart o encontrou e solicitou todas informações e correções de suas idéias, para então publicar, em 1814, a derradeira obra "Mesmerismo ou sistema das interações, teoria e aplicação do magnetismo animal como a medicina geral para a preservação da saúde do homem". No ano seguinte, 1815, Mesmer faleceu em Meersburg, para onde retornara.

Anos depois de sua morte alguns ainda tentaram reviver e resgatar a sua obra, mas por duas vezes a Academia de Ciências de Paris,- sucessora da Sociedade Real após a Revolução Francesa,- rejeitou as teorias de Mesmer.

Porém, a prática do mesmerismo estava inexoravelmente difundida em toda Europa, bem como com propagação para o Novo Mundo, mais para servir ao charlatanismo do que propriamente dentro da séria proposta original, infelizmente. Ao lado disto, honesta mas jocosa prática se verificava nos espetáculos de palco, seja por mágicos ou peças de comédia.


Sir Arthur Conan Doyle

LUZ ESPÍRITA - Espiritismo em Movimento: Março 2017
Capa do Livro de Doyle

Aphorismes de M. Mesmer – Wikipédia, a enciclopédia livre
Aforismos de Mesmer

Mesmerismus: Oder, system der wechselwirkungen, theorie und ...
Capa do livro de
Karl Christian Wolfart


Irmãs Fox

Casa das Irmãs Fox
Casa da Família Fox
Hydesville, NY, EUA.


Reconstrução do porão

3°Período – Espirítico:

Em 11/12/1847 a Família Fox, canadense, foi morar numa pequena casa em Hydesville, no Estado de New York, EUA. Eram o casal John e Margareth, com vários filhos, destacando-se Leah (1814-1890), Katherine “Kate” (1837-1892) e Margaret “Maggie” (1833-1893). Leah, mais velha, foi morar em Rochester, para lecionar música.

O melhor relato da Casa Fox foi o constante no livro de Arthur Conan Doyle, "A História do Espiritualismo", do qual a maioria dos autores consultados se basearam.

Alguns meses após terem se estabelecido no novo endereço, em março de 1848, Margareth começou a ouvir ruídos na casa, batidas de madeira. Inicialmente pensou em vento, animais, porém o padrão não era este, sem uma causa determinada pela natureza, em geral noturnos. Eram noturnos e quase sempre no mesmo local. Característica de móveis sendo arrastados. Quando não ouvido, era sentida a vibração, quando de pé no chão da casa, madeira conectada a toda estrutura do imóvel, típica cabana colonial estadounidense.

No Relato de Margareth Fox, datado de 11/04/1847 vê-se que apesar da filha mais nova, Kate, ter pensado que seria uma peça de primeiro de abril que lhe pregavam, superando o temor que em geral estas manifestações inicialmente causam, Margareth estabeleceu uma codificação de perguntas e respostas, pedindo para repetir na mesma frequência, bater palmas e, depois, batidas para sim/não e contagens para perguntas e respostas. A manifestação não só repetiu corretamente a repetição do número de batidas de palmas, como também forneceu a idade das filhas de Margareth, inclusive a falecida, de três anos de idade.

Ao dar continuidade ao experimento, Margareth indagou se seria um ser humano a responder corretamente e o silêncio foi a resposta. No entanto, ao perguntar se era um espírito, a resposta positiva combinada, três batidas, foi dada! As perguntas seguintes foram respondidas também de forma positiva. Era um espírito assassinado na casa e o assassino ainda estava vivo. E ainda conseguiu saber, com mesmo método, que o corpo fora ocultado na adega, sua família era constituída por esposa e cinco filhos, dois rapazes e três meninas, mas era viúvo. O Sr. Fox chamou a Sta Redfield, amiga vizinha mais próxima. Ela atendeu ao chamado, achando ser brincadeira… Encontrou as meninas Fox apavoradas e os pais, casal Fox não menos. A Sra. Redfield também testou o espírito com o mesmo código de batidas e todas respostas combinaram! A Sra. Redfield então chamou o casal Duesler, que chamaram o casal Hyde, e o casal Jewell. Então, com os três casais e as irmãs Kate e Maggie.

O Sr. Duesler obteve as informações complementares de que o assassino não poderia ser punido pela lei. E também como foi o assassinato, cortada a garganta com faca de açougueiro, no quarto onde estavam fazendo o teste, tendo sido arrastado o corpo até a adega, onde foi enterrado, na meia-noite de uma terça-feira. Este famoso teste que marcou o início da nova fase da História do Espiritismo foi cinco anos depois do assassinato relatado pelo espírito. A causa foi latrocínio por quinhentos dólares.

Chamaram mais vizinhos e reproduziram as perguntas, aumentando mais e mais a quantidade de testemunhasA Sra. Fox saiu com as meninas para casa de vizinhos e o Sr. Fox com Sr. Redfield ficaram, tomando conta da casa dos Fox. No dia seguinte nada aconteceu, até o anoitecer, quando os barulhos recomeçam…!

No total, mais de trezentas pessoas foram na casa dos Fox, no sábado seguinte. E na noite de 01/04/1848 começaram as escavações na adega. Cavaram até encontrar água, mas não acharam o corpo. O espírito se manteve silencioso até novas batidas em 04/04/1848.

Vale lembrar que toda a comunidade era católica, portanto, naquela época praticante e nada afeita às práticas mesmeristas e muito menos capazes de simulações ou espetaculosas práticas desonestas. Porém a tradição irlandesa e germana em seus antepassados preservara a crença nos fantasmas, com forte carga supersticiosa.

Arthur Conan Doyle em seu citado livro incluiu o depoimento de prévios moradores daquela casa, que também ouviram as batidas e ruídos de arrastar, mas sem terem se comunicado de forma codificada. Assim, temos os relatos das cartas do casal Hannah Weekman, datadas de 11/04/1848.

Os Fox deram continuidade ao estudo, estabelecendo codificação alfabética e conseguiram descobrir que o morto era um mascate chamado Charles B. Rosma, com 31 anos quando foi assassinado naquela casa. O assassino teria sido um antigo inquilino o que, pela data, levou a deduzir que o crime poderia ter sido cometido pelo Sr. Bell.

Como as iniciais escavações de abril de 1848 em nada deram, foram abandonadas, até que no verão (hemisfério norte, cerca de junho ou julho) deste mesmo ano o filho mais velho, David Fox, resolveu retomar o trabalho. E eis que na profundidade de 1,5 m encontraram uma tábua. Aprofundada a cova, encontraram restos de carvão, cal, cabelos e alguns fragmentos de ossos, o quais foram reconhecidos por um médico como pertencentes a um esqueleto humano.

Em 1915 a casa foi levada para Lily Dale, para o Memorial da Associação Espiritualista. Em 1955 misterioso incêndio a consumiu em minutos. Foi então feito um barracão em torno, para preservar o sítio original, com as fundações de pedra.


Gravura de época retratando
o evento de 31/03/1848

Planfeto das Testemunhas
Panfleto da época,
testemunhas confirmando
os eventos.

Gravura do Reverendo Burr examinando Kete Fox
Reverendo C. Chauncey Burr
alegando serem estalos
de articulações (1851)


Horace Howard Furness,
grande opositor.

William Crookes
William Crookes
Cesare Lombroso
Cesare Lomboso
Alfred Russell Wallace
Alfred R. Wallace
Alexandre Aksakov
Alexandre Aksakov

Cientistas desta época foram examinar as evidências, comprovadas pelo aspecto e textura dos materiais analisados a sua autenticidade. Foram eles: William Crookes, Cesare LombrosoAlexander Aksakov e Alfred Russel Wallace, dentre outros bem conhecidos da literatura espírita, tais como Charles Richet, criador do termo "ectoplasma".

Maggie foi morar com o irmão David e Kate foi morar com a irmã Leah e o marido desta, Sr. Fish. Mas as manifestações acompanharam as irmãs Fox. Então, a ligação para a comunicação não era apenas a casa onde o latrocínio ocorreu, mas também as próprias irmãs em si, principalmente a mais nova, Kate. E interpretaram como um "contágio", qual doença, uma vez que Kate morando com os Fish, estes também começaram a ter fenômenos em sua casa, afetando não só o casal, mas as suas filhas. Outras pessoas também, além da família de Leah, começaram a apresentar comunicação inteligente com o outro lado, sem a presença de Kate, após ter tido contato com ela. De início pensaram ser histeria, simulação, sensacionalismo etc.

No entanto, entrou em cena novamente William Crookes que estudando o fenômeno, constatou que o observado tinha uma consciência correlata, dando fé aos fatos. Ou seja, as comunicações eram comprovadas pela informações dadas, desconhecidas pelas pessoas com quem se faziam. Então, a mediunidade aflorava geral nos anos de 1850 a 1860.

Para culminar a história das Irmãs Fox, muito tempo depois, em 23/11/1904 o Boston Journal noticiou a descoberta do esqueleto de um homem cujo espírito se supunha ter ocasionado os fenômenos na casa da família Fox em 1848. Alguns meninos de uma escola estavam brincando na adega da casa onde residiram os Fox, casa que tinha a fama de ser mal-assombrada. Em meio aos escombros de uma parede que existira na adega, os garotos encontraram as peças de um esqueleto humano. Junto ao esqueleto foi achada uma lata de um produto costumeiro usado por mascates. Esta lata se encontra agora em Lily Dale, na sede central regional dos Espiritualistas Americanos.

No período de 1848 em diante a vida dos Fox nunca mais foi a mesma. Infelizmente Maggie ao crescer, seduzida pela nascente vaudeville, fama e fortuna, partiu para os palcos e arrastou a Kate, de fato a médium e menos projetada, menos ambiciosa. Rodaram por diversas cidades e estados, também estudadas por muitos cientistas, tanto no intuito de comprovar, mas principalmente, desacreditar, como simuladoras. Maggie certa vez confessou ser simulação e aí entraram numa espiral de decadência. Mesmo depois desmentindo a sua negação, o dano já estava feito, irreversível.

Assim, podemos considerar as Irmãs Fox como o marco zero da mediunidade manifesta, com comunicação senciente, destacando-se Kate Fox, o que fez inspirar muitos outros posteriores experimentos, não mais pela transmissão de fluido vital, do mesmerismo, mas já com a reconhecida participação de espíritos, nada espetaculares, apenas pessoas que mudaram de plano existencial. Estes cientistas que estudaram as Fox levaram para a Europa suas informações, bem como a imprensa profusamente noticiou pelo mundo, desde o início na casa de Hydeville, passando pela ascendente carreira delas, enquanto médiuns, atingindo em cheio a fome de conhecimento e entretenimento do Velho Continente, nos anos 1850 em diante. Nos 20 anos que sucederam o famoso evento de 1848, a tiptologia nasceu para ficar de vez até que Kardec fizesse a Codificação, dando uma base filosófica, científica e moral, sem a frívola abordagem do objeto.

O evento das Irmãs Fox foi o fundamental determinismo do que se observou na Europa, nas décadas seguintes, no que se refere aos estudos da comunicação com os mortos. De mero jogo de salão para mover objetos pelo fluido vital dos participantes, agora, a busca objetiva e conhecida do meio para a comunicação com os os mortos ser possível, já que a sua credibilidade fora dada pelos cientistas da época.

Leah escreveu um livro, "The Missing Link", New York, 1885, no qual ela faz referência as faculdades paranormais das irmãs. Devido aos seus casamentos, foi sucessivamente conhecida como Mrs. Fisch, Mrs. Brown e Mrs. Underhill.

Das Irmãs Fox até Allan Kardec temos o período de ascensão do Espiritualismo, que, à semelhança das religiões de todos os prévios tempos, acredita na imortalidade da alma, a evolução dos espíritos, em busca da pureza e ascensão para o divino e celestial, porém pela lei de causa e efeito, com o risco da danação eterna, no conceito tradicional do inferno, contraponto do céu, mais pelas doutrinas dogmáticas das instituições religiosas, do que propriamente uma filosofia comprovada.

Como já vimos, nas culturas orientais a reencarnação já era aceita. Existe a polêmica de que a ICAR teria até o Século III AD aceitado a pré-encarnação, quando a alma livre, espírito, já senciente antes de nascer na matéria. Mas, de qualquer forma, não concebe na sua Doutrina, a reencarnação, assim como também não, o Espiritualismo. Nesta cultura tradicional milenar, o espírito que vagueia o faz pela adesão ainda aos familiares, aos bens materiais e/ou por questões pendentes, para depois ascender aos planos superiores, "ir para a porta da luz", ou então ir para a danação eterna dos infernos… Enquanto "não sobe e nem desce", vagaria errático ("fantasmas"), quando mais teria oportunidade de se comunicar com os vivos. Ou perturbá-los.


Restos da Casa dos Fox.
Na dupla parede, local
do esqueleto de Rosma


Objetos de Charles B. Rosma


Detalhe da maleta de Rosma

The Missing Link In Modern Spiritualism (1885)
Capa do Livro de Leah

Allan Kardec
Allan Kardec
Ficheiro:Tables tournantes 1853.jpg – Wikipédia, a enciclopédia livre
Mesas Girantes
Gravura ilustrativa
O Livro dos Espíritos – Wikipédia, a enciclopédia livre
Fac-símile original
Amélie-Gabrielle Boudet
Amélie-Gabrielle Boudet
(Sra. Kardec)

Galeria d'Orleans, Paris
UEAK Biografias : Ermance Dufaux
Ermance Dufaux de La Jonchère
Passagem à Rua Saint'Anne, Sede da SPEE
Rue Sainte Anne 59,
Sede da SPEE desde 1860

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu em Lyon, França, em 03/10/1804. Desde os 18 anos Mestre Colegial de Ciências e Letras, e desde os 20 anos renomado autor de livros didáticos. Fez sua formação acadêmica na Suíça, com o famoso e inovador Prof. Johann Heinrich Pestalozzi, ao qual sucedeu em Paris.

Conforme consta no livro de J. P. Godoy, “Allan Kardec contava 51 anos quando se dedicou à observação e estudo dos fenômenos espíritas, sem os entusiasmos naturais das criaturas ainda não amadurecidas e sem experiência. A sua própria reputação de homem probo e culto constituiu o obstáculo em que esbarraram certas afirmações levianas dos detratores do Espiritismo".

Conforme publicado em "Obras Póstumas", foi em 1854 que ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das “mesas girantes”, bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data, na casa de Sra Plainemaison. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal do qual era estudioso. Apenas em maio de 1855 sua curiosidade se voltou efetivamente para as mesas, quando começou a frequentar tais reuniões. Também tomou conhecimento da psicografia. Teria tido contato com um “espírito familiar”, que supostamente teria passado a orientar os seus trabalhos. O pseudônimo “Allan Kardec” foi escolhido porque esta entidade teria revelado que ambos haviam vivido juntos, em uma vida passada, entre os druidas do povo celta, na região da Gália (atual França).

A metodologia usada por Allan Kardec, na pesquisa da mediunidade, foi motivo de Tese de Mestrado de Marcelo Gulão Pimentel (Juiz de Fora, MG, 2004)

O Sr. Fortier, em dezembro de 1854, falou, entusiasticamente, com o professor Rivail (Allan Kardec) sobre os fenômenos das mesas girantes e falantes; mas este fez pouco caso do assunto, considerando-o um absurdo, pois mesa não tem “nervos para sentir nem cérebro para pensar”.

Em 06/01/1855, o Sr. Carlotti foi quem primeiro falou a Kardec sobre a intervenção das almas no “fenômeno da mesa”. Como estudioso do magnetismo durante 35 anos, o Prof. Rivail julgou que tudo não passava de animismo, ou seja, influência da própria alma do magnetizado. Ainda assim, resolveu conferir pessoalmente a informação. A Srta. Aline Carlotti (20 anos) era médium e posteriormente fez parte da redação da Codificação.

E foi, então, na casa da Sra. Roger, em 01/05/1855, que Kardec teve os primeiros contatos com o fenômeno intitulado “das mesas girantes”. O espiritualismo americano, decorrente dos chamados fenômenos de Hydesville (Irmãs Fox), já vinha sendo praticado na França desde abril de 1853. A Sra. Roger evocou o Espírito de um amigo do Sr. Pâtier e foi atendida. Nesse dia, a Sra. Plainemaison convidou Rivail (Kardec) para assistir a próxima sessão na casa dela.

Em 08/05/1855, na casa da Sra. Plainemaison, presenciou, pela primeira vez o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e batiam, “em condições tais” – segundo o próprio Kardec, – “que não deixavam margem a qualquer dúvida”. Viu, ainda, as respostas inteligentes que, por meio de pancadas, a mesa fornecia, e assistiu a alguns ensaios de escrita mediúnica numa ardósia, com o auxilio do primitivo processo da “cesta-de-bico (corbeille-toupie) descrita em “O Livro dos Médiuns“.

Continuando a frequentar a casa da Sra. Plainemaison, efetuou observações cuidadosas, repetiu experiências, até que encontrou nas sessões da família Baudin, o ambiente ideal para prosseguir seus estudos e, ante os fenômenos extraordinários e de alta elevação espiritual que presenciou, pela mediunidade da Sra. Plainemaison, passou a estudar e reunir-se com os demais médiuns para construir o edifício da elevada Doutrina Espírita, sob a coordenação maior do Espírito de Verdade.

Em 1856, as sessões realizadas na casa do Sr. Baudin, atraíam seleta e numerosa assistência. As filhas de Sr. Baudin, Caroline (18 anos) e Julie (16 anos). Conforme escreveu o próprio Allan Kardec, “O Livro dos Espíritos” ali foi começado e feito em grande parte. Também participou nesta redação a médium de 20 anos, Ruth Celine Japhet, de origem judaica.

Entre os Espíritos menos sérios que ali se comunicaram, Kardec cita Frédénc Soulié, notável romancista e autor dramático, falecido em 1847, que se identificou de mil maneiras e escreveu um conto, publicado na “Revue Spirite”. Ele se manifestou espontaneamente. “Sua conversação era espirituosa, fina, mordente, bem a propósito, e jamais desmentiu o autor das ‘Mémoires du Diable’.” “O médium que lhe servia de intérprete era a Srta. Caroline Baudin, uma das filhas do dono da casa, médium inteiramente passiva, que nunca tinha a menor consciência do que escrevia, podendo rir e conversar livremente, o que ela fazia com naturalidade, enquanto a sua mão psicografava. O meio mecânico usado fora, durante muito tempo, a cesta-de-bico (corbeille-toupie) (. . .). Mais tarde, o médium se serviu da psicografia direta.” Estes dados informativos constam do Prefácio que Kardec fez para o conto de Soulié, acima referido, e que assim intitulou: “Une nuit oubliée ou la sorcière Manouza (Mille deuxième nuit des Contes Arabes)”

No lançamento do Livro dos Espíritos, na Livraria Dentu, localizada na Galeria d'Orleans, Paris, conheceu a médium Ermance Dufaux de La Jonchére, que escrevera "A História de Joana D’Arc contada por ela mesma", aos 12 anos de idade e publicado quando tinha 14 anos. Ermance Dufaux passou a colaborar ativamente com Kardec, com aumento de 508 para 1019 perguntas na segunda edição do Livro dos Espíritos, sendo o espírito de São Luis por ela psicografado.

Kardec também teve auxílio inestimável de tantos outros médiuns, tais como a Sra. Roustan (intuitiva), a Sra. Canu (sonâmbula inconsciente, psicofônica), a Sra. Leclerc (psicógrafa). a Sra. Clement (psicógrafa e psicofônica), Sra. Roger (clarividente) e a Srta. Aline Carlotti (psicógrafa e psicofônica). Allan Kardec não as citou nas obras, em parte para protegê-los das perseguições religiosas e em parte porque a autoria dos textos, na verdade, era dos espíritos,- conforme também lê-se na referência consultada, a revista O Consolador.

Em 1858, iniciava a publicação da famosa “Revue Spirite“. Em 1861, “O Livro dos Médiuns“. Em 1864, aparecia “O Evangelho segundo o Espiritismo“; seguido de “O Céu e o Inferno” em 1865. Finalmente, em 1868 “A Gênese” completava o Pentateuco do Espiritismo.”

Em 14/10/1861 Allan Kardec viajou para fundar a Sociedade Espírita de Bordeaux, convidado pelo advogado Jean-Baptiste Roustaing,- recém-convertido ao Espiritismo, quando leu a Codificação enquanto doente (1858-1861), - quando finalmente os dois se conheceram pessoalmente. após muitas cartas trocadas. E juntos foram visitar a pequena Jannine, médium que produziu o lindo "Quadro Planetário", que a ambos encantou. Pouco tempo depois a mediunidade da mãe desta criança aflorou, tornando a Mme. Émelie Collignon uma importante personagem desta trama. Após este encontro, Roustaing produziu, de 1861 a 1865, "Os Quatro Evangelhos (Espiritismo Cristão) ou Revelação da Revelação", psicografia de Émilie Collignon, em nome dos evangelistas canônicos, publicação em Paris, 1866. Enviou para Kardec apreciar, que fez alguns elogios, mas também muitas críticas, polidas, mas sérias. Kardec e Roustaing mantiveram cordial fraternidade, até a morte do Codificador, que teve no amigo um fiel seguidor e difusor da Doutrina. Até Kardec desencarnar...

Allan Kardec desencarnou em Paris, em 31/03/1869. Está sepultado no Cemitério Père-Lachaise, Paris, França. Seu mausoléu tem formato de um dolmen druídico, onde se encontra a clássica máxima: “Nascer, Morrer, Renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei”.

Kardec morreu na véspera de inaugurar a 1ª Livraria Espírita. Tendo se sentido mal, pediu à sua esposa, Amelie-Gabrielle Boudet, que mesmo que desencarnasse, não deixasse de realizar a inauguração, posto que já tinha emitido muitos convites e era importante manter a programação. Afinal, para quem é espírita, sabe que a morte física é apenas uma passagem de plano.

Morto pela rotura de aneurisma da aorta, a sempre dedicada esposa e parceira, Amélie-Gabrielle Boudet, a revisora de toda a Codificação, Professora de Letras e de Belas-Artes, não deixou esmorecer a causa. E, após a morte de Allan Kardec, tornou-se gestora, difusora e mantenedora da Obra. Sem Boudet, nada teria chegado ao mundo e aos dias de hoje. Concorreram em seu auxílio o fiel Léon Denis e Gabriel Delanne, dentre outros continuadores da Doutrina, parceiros e amigos nesta missão.

Pouco antes de falecer, Kardec fundou uma Sociedade Anônima, à qual legou os seus bens, com o objetivo de assegurar a difusão do Espiritismo. Pierre-Gaëtan Leymarie, um dos fundadores, tornou-se o seu administrador. Com a morte de Kardec (1869), passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revista Espírita" (1870 a 1901) e gerente da "Livraria Espírita" (1870 a 1897).

Até então, sem problemas maiores dentro da estrutura do Movimento Espírita florescente. Porém graves situações causaram uma crise, logo após esta morte de Kardec. Nos anos que se sucederam à morte física do Codificador observamos duas crises, que abalaram sobremaneira o movimento espírita.

Em 1875 deu-se o "Processo dos Espíritas", quando Pierre-Gaëtan Leymarie, sucessor de Kardec no comando da SPEE e da Livraria, foi preso por um ano e multado em 500 francos, como réu de fraude fotográfica (fotos de espíritos) por perjúrio de seus fotógrafos Buguet e Ferman, citando-o também como coautor. A viúva de Kardec penou a amargura ter sido testemunha neste processo. O livro homônimo foi publicado pela Mme. Marina Leymarie.

A segunda crise, principalmente após a morte de Amélie Boudet, em 1883. A dupla Leymarie & Roustaing quis modificar “A Gênese” original (mais de 200 adulterações antidoutrinárias graves). Inegável a influência exercida por Roustaing sobre Leymarie, que contava com o apoio financeiro de Jean Guérin. Enfim, criariam uma "revisão" das Obras, com a meta de adequar e compatibilizar para com a de Roustaing, protegido de J. Guérin. Esse, por sua vez, em manipulações econômicas de bens e propriedades, tornar-se-ia "dono" credor da SPEE, UEF etc, usando a seu favor, como especulação capitalista. Vale lembrar que o próprio Leymarie não morria de amores pela obra de Roustaing, até que, após a prisão e falência, mudou de posição ao ter J. Guérin como credor/patrocinador.

Várias situações foram denunciadas na época por Henri Sausse ("Uma infâmia", 1884) biógrafo de Kardec, e por Berthe Fropo ("Muita Luz", 1884) nobre e corajosa amiga de Amélie Boudet. A UEF publicou uma resposta às alegações dos seguidores de Roustaing, expurgando a infâmia. Para tanto, também fundamentais foram Léon Denis e Gabriel Delanne, continuando o valioso auxílio que já tinham dado à viúva quando ainda viva, para a Obra não ser maculada.

Superada a crise, Leymarie não deixou de ter seu grande mérito, pois sempre fiel às suas convicções, grande defensor do Espiritismo, em muito contribuiu para a sua sobrevivência, difusão. Leymarie foi o responsável pela publicação das "Obras Póstumas" de Allan Kardec, além de muitas outros artigos e livros, bem como a "Revista Espírita" ter completado o ano de 1869, mesmo após a morte de seu fundador.

À parte de todas as críticas feitas à obra de Roustaing e aos seus seguidores, é inegável a grande contribuição de Leymarie, Roustaing e Collignon, dentre outros, para a difusão do Espiritismo desde a sua primeira década, apesar dos "pecados".

 
Leon Denis
Léon Denis

Gabriel Delanne
Gabriel Delanne

Pierre-Gaëtan Leymarie
Berthe Fropo
Berthe Fropo
Ahmet Kayanin mezari.. - Pere-Lachaise Mezarlığı (Cimetiere du ...
Mausoléu de Allan Kardec
Leonora Piper
Leonora Piper
Elizabeth d'Esperance
Elizabeth d'Espérance

Camille Flammarion
Camille Flammarion

 

Ernesto Bozzano
Ernesto Bozzano


D. D. Home levitando
Gravura ilustrativa
de Louis Figuier

4º Período – Cientifico:

Durante a vida de Allan Kardec, de 1855 a 1869 fez-se não só a Codificação, mas também houve a explosão do expirementalismo científico, onde surgiram os nomes já acima mencionados, soma-se compulsória a citação de Camille Flammarion e Ernesto Bozzano. Não menos importante, médiuns como Eusapia Palladino e Florence Cook, talvez as mais intensas e estudadas das médiuns após Kate Fox. Difícil dizer qual cientista não as estudou, dentre os expoentes da época.

Após a morte de Allan Kardec, sua viúva, Amélie-Gabrielle Boudet, foi de suma importância para a perpetuação e difusão da Codificação e da Doutrina, ao lado de Léon Denis, Gabriel Delanne, dentre tantos outros.

Ao atribuirem uma causa consciente à emissão de energia do corpo humano, não apenas uma energia, mas com conteúdo corpuscular além de luminoso, definiu Charles Richet o termo que consagrado ficou, o conceito de “ectoplasma“, advento do “Pai do Espiritismo Científico”, o famoso astrônomo Camille Flammarion.

Flammarion foi a importante transição entre os Período Espirítico e o Científico. Em 1923, proferiu célebre palestra na associação de parapsicologia por ele criada, a Society for Psychical Researches. Ele afirmou que acreditava em telepatia, duplo elétrico, teoria da fita de pedra e raras manifestações mediúnicas. “É somente pelo método científico que podemos progredir na busca da verdade. A crença religiosa não deve tomar o lugar da análise imparcial. Devemos estar constantemente em guarda contra as ilusões “. Preconizava o raciocínio científico para o estudo da mediunidade, sem conceitos e crenças religiosas. Não obstante, aceitava a imortalidade da alma, não como mero princípio dogmático da fé, mas como uma realidade decorrente da libertação da alma, de seu corpo, a energia senciente livre.

Dentre os ilustres cientistas, destaca-se o nome de Wiliam Crookes, segundo Charles Richet, pois era o mais cético de todos, até que no afã de comprovar a farsa, foi convencido do contrário.

William Crookes (17/06/1832 – 04/04/1919) foi um renomado cientista londrino, tendo recebido a Ordem do Mérito e sido Presidente da Royal Society.

Físico e Químico. Descreveu o Tálio (1861), identificou o Urânio (1900), bem como a primeira amostra isolada do Hélio (1905). Grande interessado na pesquisa da radioatividade e do magnetismo. Inventou o Radiômetro de Crookes e desenvolveu os Tubos de Crookes, investigando os raios catódicos.

Crookes viu como necessário estudar os espíritos e as suas manifestações,- a mediunidade,- de forma crítica, sob a óptica metodológica da ciência pura. Esse interesse surgiu no final dos anos 1860, possivelmente pela morte de seu irmão mais novo Philip, em 1867 aos 21 anos (febre amarela).

As mais notáveis experiências mediúnicas foram realizadas através da médium Florence Cook, com apenas 15 anos de idade, quando obteve as materializações do espírito Katie King, fato que abalou o mundo científico da época. Florence Cook e Eusapia Palladino foram médiuns muito intensas em suas manifestações, assim como Marthe Béraud.

Em 1867, influenciado pelo clarividente Cromwell Fleetwood Varley, participou de uma sessão para tentar entrar em contato com seu irmão. Foi duramente criticado pelos demais cientistas materialistas, por ter endossado a teoria da existência de uma força consciente que se manifesta através de fenômenos paranormais. As fraudes confessadas da “médium” Anna Eva Fay contribuiram para a sua desacreditação. Para piorar a situação, em 1906, William Hope enganou Crookes com uma fotografia falsa do espírito de sua mulher. Possivelmente os seus opositores materialistas teriam armado as fraudes para desacreditá-lo.

Com a Belle Époque, o período compreendido entre o fim da Guerra Franco-Prussiana (1871) e o início da I Guerra Mundial (1914), proliferaram os jogos de salão "místicos", com a tiptologia,- no caso com a mesa tripé levitante,- para o deleite da busca de comunicação com os mortos. Também devemos citar as Tábuas de Ouija e suas variantes, como o Copo com Alfabeto. Ambos questionados como sendo efeito inconsciente dos participantes, ao tocarem a peça móvel em busca das letras, soletrando as mensagens. Mas isto nem sempre se revelou de fato ser ilusão, falsidade ou efeito inconsciente dos participantes. As igrejas convencionais, católicas e protestantes, condenavam a prática, como sendo demoníaca. A comunicação de mensagens desconhecidas pelos presentes, com conteúdo inteligente, levou à suspeita de não serem meras expressões dos presentes, mas com uma possível participação de um elemento senciente alheio aos experimentadores,- os espíritos.

Como vimos, o Mesmerismo superado pelo Espiritualismo e, em seguida, pelo Espiritismo, ao entrar na Belle Époque foi um elemento forte para ser usado na febre hedonista daquele tempo da Era de Ouro do final do Século XIX parisiense, extensível a toda alta sociedade e círculos intelectuais. Porém, isto era de forma frívola, em nome da diversão. Inclusive, cita-se a hedionda brincadeira "desenrolar múmias", destruindo acervos arqueológicos, de forma bem profana. De qualquer forma, contribuiu, este período, para a disseminação do conceito não só da imortalidade da alma, mas também o desejo de comunicação espiritual, possível de fato se fazer.

À partir de 1860 observou-se no mundo um grande avanço de pesquisas científicas, em diferentes áreas de Física, Química, com diversas invenções decorrentes. Personagens da História tais como Antonio Meucci (1808-1889), Thomas Edison (1847-1821), Nikola Tesla (1856-1943), Guglielmo Marconi (1874-1837), o Casal Curie, além de muitos já anteriormente citados, que de alguma forma se correlacionaram com o Espiritismo, seja pelo uso de seus inventos por terceiros, ou os próprios, em pesquisas da paranormalidade com seus próprios equipamentos.

Assim, o telefone, o fonógrafo, o telégrafo, as bobinas elétricas, ampolas de raios catódicos, fraccionamento de gases, foram aparelhos que desde as suas criações, foram também usados para a pesquisa da mediunidade e dos efeitos físicos, das femenologias. Nascia assim a era da pesquisa instrumental, iniciada com o próprio William Crookes.

Eusapia Palladino
Eusapia Palladino

 

Flrence Cook
Florence Cook

 


Ectoplasmia
(Marthe Béraud)

 

 

Teles de Menezes
Teles de Menezes

Ao lermos a biografia de Thomas Edison, veremos que ele usou seu fonógrafo nesta pesquisa já em 1820. No entanto, a primeira publicação sobre Transcomunicação Instrumental (TCI), no caso através do Fenômeno de Vozes Eletrônicas (FVE) coube a Oscar D’Argonnel, pseudônimo de Carlos Gardone Ramos, em seu livro de 1925, "As Vozes do Além pelo Telefone". Em sua obra consta Fred Figner, grande filantropo e fundador da indústria fonográfica no Brasil, como seu principal colaborador.

Com o passar das décadas e novas invenções, as mesmas também foram empregadas para as pesquisas de comunicação com espíritos. Tanto para comprovar existirem ou não, como verificar a veracidade de médiuns, se charlatanismo ou não, além da busca de registros de vozes e imagens do além. Seguem-se sucessivos nomes tais como Friedrich Jürgenson (1903-1987), Konstantins Raudive (1909-1974), George Meek (1910-1999). Vale ressaltar que de alguma forma, mesmo com aparelhos cada vez mais sofisticados, a presença de um médium é necessária, para os aparelhos funcionarem em suas plenitudes. Ainda que não os manipulassem diretamente, a presença seria catalizadora para o processo. Hernani Andrade (1913-2003) foi o brasileiro grande estudioso de FVE/TCI.

No Brasil, o primeiro registro oficial do Espiritismo data do ano de 1863, com Teles de Menezes, em Salvador, Bahia, quando começou os estudos com amigos, culminando na fundação do Grupo Familiar do Espiritismo, em 1865. Teles de Menezes manteve correspondência pessoal com Allan Kardec, o que deu embasamento para o sério trabalho realizado, dentro das diretrizes estabelecidas pela AEF (Associação Espírita Francesa).

De 1860 em diante, franceses exilados de Napoleão III, no Rio de Janeiro começaram a praticar o Espiritismo. Em 1873, foi fundada a Sociedade de Estudos Espiríticos – Grupo Confúcio (RJ), sucedida pela Sociedade de Estudos Espíriticos Deus, Cristo e Caridade (SEDCC) e, finalmente a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade (SADCC), que em 1885, unificando-se com outras associações, deram origem à fundação da FEB (Federação Espírita Brasileira). Destacam-se os nomes de Antônio Carlos Menezes, Augusto Elias da Silva, Ewerton Quadros e Bezerra de Menezes.

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Bezerra de Menezes
Bezerra de Menezes

 

Para a História do Espiritismo no Brasil, clique aqui.

Consultar também a Cronologia do Espiritismo.

Biografias específicas constantes na nossa página (Grandes Vultos).

 
     

 

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